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Priscila Emery

Como refeições afetivas podem estimular memórias em pessoas com demência


Refeições em família podem ser muito positivas para ativar memórias em pessoas com demência


Refeições especiais têm o poder de despertar memórias profundas, proporcionando momentos de conexão emocional, especialmente para pessoas que vivem com demência. Estudos recentes e iniciativas inovadoras, como as organizadas por Jake Broder, mostram que os alimentos favoritos podem desencadear recordações valiosas, beneficiando tanto pacientes quanto cuidadores.


A relação entre comida e memória

O cheiro, o sabor e as texturas de comidas familiares têm uma conexão direta com áreas do cérebro relacionadas à memória e à emoção, como o hipocampo e a amígdala. Essas regiões são ativadas por experiências sensoriais, tornando a alimentação uma forma poderosa de acessar lembranças, mesmo em indivíduos com demência avançada.


Por exemplo, Broder, um ator e pesquisador do Global Brain Health Institute, criou um projeto que reúne idosos para compartilhar receitas e histórias. Em uma dessas ocasiões, um participante com demência, conhecido como Chef Michael, preparou um prato especial de galetos marinados. Ao relembrar o processo de cozinhar e compartilhar sua história, ele mostrou níveis surpreendentes de engajamento e vivacidade.


Por que refeições despertam memórias?

A relação entre memória e comida vai além do simples ato de comer. A ciência explica:


  1. Memórias distribuídas no cérebro: As lembranças de pratos favoritos, como o cheiro do bolo da avó ou o gosto do molho caseiro, são armazenadas em várias regiões cerebrais. Isso torna essas memórias mais resistentes aos impactos da demência.

  2. Fator emocional: Momentos ligados a refeições frequentemente envolvem sentimentos intensos de conforto e alegria. Essas emoções ajudam a reforçar as lembranças.

  3. Associatividade multissensorial: Comer ativa os sentidos do olfato, paladar e visão, criando uma experiência rica que facilita o acesso a memórias antigas.


Refeições como terapia para demência

O uso de refeições para estimular memórias faz parte da chamada terapia de reminiscência, uma prática que utiliza experiências do passado para melhorar o bem-estar emocional e cognitivo. Embora não seja uma cura para a demência, essa abordagem oferece benefícios importantes:


  • Conexão social: Compartilhar histórias durante uma refeição ajuda a construir laços entre pacientes, familiares e cuidadores.

  • Redução de estresse: Momentos de descontração durante o preparo e o consumo de alimentos criam uma pausa das dificuldades impostas pela doença.

  • Estímulo cognitivo: A repetição de tarefas familiares, como cozinhar, pode reforçar memórias profundamente enraizadas e habilidades motoras.


Exemplo inspirador: jantares terapêuticos

O projeto de Broder demonstrou como refeições bem planejadas podem transformar a experiência de vida para pessoas com demência. Ele organizou jantares em centros para idosos, onde pratos favoritos eram preparados pelos próprios participantes. Durante essas reuniões, pessoas que raramente se comunicavam passaram a compartilhar histórias e a se envolver ativamente.


Para facilitar o diálogo, Broder preparava cartões com anotações que ajudavam os participantes a lembrar detalhes de suas histórias. No caso de Chef Michael, esse apoio foi fundamental para que ele pudesse recontar suas memórias como chef, criando um momento único de realização e alegria.


Como criar conexões através da comida

Se você tem um ente querido com demência, pode usar refeições para estimular suas memórias. Algumas dicas incluem:


  1. Preparar pratos especiais: Escolha receitas que tenham significado emocional e histórico para a pessoa.

  2. Envolver o paciente: Permita que ele participe de etapas simples, como misturar ingredientes ou decorar um prato.

  3. Criar um ambiente sensorial: Reforce o cheiro e o sabor dos alimentos, já que essas sensações têm forte ligação com memórias emocionais.

  4. Estimular histórias: Pergunte sobre as refeições que ele mais gostava ou momentos marcantes relacionados à comida.


Conclusão

A comida vai muito além de sua função nutricional; ela é um veículo poderoso para resgatar memórias e fortalecer conexões, especialmente em pessoas com demência. Projetos como os jantares terapêuticos de Jake Broder mostram que práticas simples, como cozinhar e compartilhar refeições, podem ter um impacto profundo na qualidade de vida de quem vive com essa condição.


Se você busca maneiras de melhorar o bem-estar de alguém com demência, considere explorar o poder da comida e das memórias que ela desperta. Afinal, momentos de conexão são valiosos tanto para os pacientes quanto para seus cuidadores.



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